O Concelho da Povoação, devido ao seu enquadramento vulcanológico, é constituído essencialmente por depósitos piroclásticos de natureza pomítica que, na sequência de períodos de precipitação intensa, se tornam propícios à ocorrência de manifestações de instabilidade geomorfológica, fazendo deste concelho um dos locais do Arquipélago dos Açores mais susceptíveis aos movimentos de vertente.
No dia 12 de Fevereiro de 2002 e nos dias 6 e 18 Março de 2005, a ocorrência de episódios de precipitação intensa desencadeou numerosos deslizamentos e escoadas detríticas superficiais no Concelho da Povoação, tendo originado avultados danos materiais em habitações, cortes nas vias de comunicação e 3 vítimas mortais (registadas no evento de 6 de Março).
Com o intuito de estudar os factores que promoveram a instabilidade das vertentes nas referidas datas, aplicou-se um modelo hidrológico acoplado à análise de estabilidade de vertentes para avaliar as condições vigentes aquando da ruptura. O modelo hidrológico utilizado determina o efeito transiente do processo de infiltração, através da precipitação dos dias que antecederam e promoveram os episódios de instabilidade. Deste modo, o modelo permite gerar cargas hidráulicas que, quando associado a um modelo geotécnico (e.g. modelo de talude infinito), possibilitam avaliar a variação do factor de segurança dos taludes duma forma dinâmica, em função do tempo (com resolução de 30 e 60 minutos) e da profundidade antes, durante e após a ocorrência de um período de precipitação em particular.
A abordagem determinista utilizada permitiu construir uma explicação física dos processos de instabilidade, relacionada com a precipitação na área de estudo, reconstituir os mecanismos desencadeantes de instabilidade naquelas datas e a simular a hora das ocorrências, que correspondeu sensivelmente ao momento exacto das rupturas ocorridas no terreno.
O modelo apresentado, pelo seu dinamismo e exactidão, revelou ser uma excelente ferramenta de previsão de movimentos de vertente desencadeados por chuva, podendo ser utilizado como base à implementação de sistemas de alarme em locais específicos. Neste contexto, poderá futuramente ser integrado numa plataforma comum com a Protecção Civil, articulado com modelos empíricos que se encontram em desenvolvimento.