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Referência Bibliográfica


TROTA, A. (2008) - Estudos de deformação crustal nas ilhas de S. Miguel e Terceira (Açores): Avaliação da actividade vulcânica na área do Fogo/Congro (S. Miguel). Tese de Doutoramento no ramo de Geologia, especialidade Geodesia, Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, 305p.​​

Resumo


​Este estudo teve como objectivos a detecção, a descrição e a compreensão do padrão de deformação actual nas ilhas de S. Miguel e da Terceira (região Açores), uma área localizada na confluência das placas tectónicas Norte Americana (NA), Eurásia (EU) e Nubia (NU) (África), as quais foram edificadas pela actividade vulcânica nos últimos 40 Ma, resultante da interacção entre a Crista Média Atlântica (CMA) e a Pluma Mantélica dos Açores (PMA). Na região Açores, para a zona localizada a W da CMA, o deslocamento diferencial actual entre as placas NU e EU dá origem a uma zona de deformação complexa, com variações espaço-temporais nos regimes tensão/deformação, quer em orientação quer em magnitude. De modo a alcançar esse propósito eu usei maioritariamente os dados GPS, obtidos em campanhas e de modo contínuo, assim como a dados da estação total e de micro-gravimetria, amostrados entre Dezembro de 1999 e Setembro de 2007.

 

A análise da componente vertical da deformação, relativamente à placa estável da Eurásia, mostrou uma subsidência globalmente significativa para ambas as ilhas, com um valor próximo de 1 cm/ano, pese embora o fenómeno de inflacção observado na zona central da ilha de S. Miguel, na Zona do Fogo/Congro (ZFC). Esta subsidência insular, que foi confirmada de modo independente através de medições em marégrafos e da subida do nível médio da água do mar, pode estar relacionada com o aumento da actividade vulcânica nos Açores, evidenciada pela erupção vulcânica submarina da Serreta (1998-2001) e pela actividade vulcânica na ZFC (2000-2007). A componente horizontal da deformação observada na ilha Terceira, de pequena magnitude, evidencia, na actualidade, um regime de compressão moderado. Pese embora a elevada deformação tridimensional ocorrida na ZFC, a análise dos deslocamentos para os sectores W e NE da ilha de S. Miguel permitiu, para o período em análise, a detecção de um regime extensivo de apenas 0,040 μstrain/yr. Os resultados GPS aqui apresentados, em conjunto com outros dados publicados, permitiram a comparação com modelos globais da tectónica de placas e a redefinição do limite actual entre as placas Nubia e Eurásia, aqui designada por Zona de Cisalhamento dos Açores (ZCA). Esta zona, sem movimento independente, de forma triangular, curva e alongada, estreita próxima dos ilhéus das Formigas, na transição para a Falha da Glória, e larga próximo da CMA, reflecte a zona de transferência de tensão e deformação entre as placas NU e EU. A actual actividade tectónica da ZCA, no quadro da tectónica global, poderá controlar a ascensão de magma do manto para reservatórios magmáticos intermédios superficiais (câmaras magmáticas) e/ou directamente para a superfície, resultando, neste caso, em erupções vulcânicas. A análise dos modelos de deformação crustal obtidos do conjunto de dados GPS e da estação total, as variações gravimétricas, os dados geoquímicos publicados e, principalmente, os dados sísmicos para o período compreendido entre Dezembro de 1999 e Setembro de 2007, para a região do Fogo/Congro, são aqui interpretados como o resultado de uma provável intrusão magmática em forma de “charuto”. Esta intrusão magmática siliciosa, localizada entre os 1800 m e os 2400 m de profundidade, com aproximadamente 110 m de raio, pressurizou as rochas encaixantes e contribuiu para a ocorrência de uma multiplicidade de enxames sísmicos de baixa energia. Esta actividade vulcânica, com máximo de energia registado nos finais de Setembro de 2005, teve três fases de deformação principais, as quais corresponderam provavelmente a modificações na taxa e orientação do fluxo de magma, dando origem a complexos períodos de inflação e subsidência na ZFC. O valor global da variação de volume, tendo por base o modelo de Mogi, no período de actividade vulcânica foi estimado em 0,089 km3, o qual se aproxima das emissões, em equivalente de rocha densa, para a erupção Furnas de 1630 AD (0,087 km3). A análise da implantação do corpo magmático quente, em conjunto com outros dados publicados, tornou possível a actualização do Modelo Conceptual do Sistema Hidrotermal do Fogo. A actividade vulcânica ocorrida na ZFC, a primeira monitorizada com técnicas geodésicas, parece ser um fenómeno recorrente para a ZFC, pelo menos no último século. Este caso de estudo forneceu importantes contributos para o conhecimento das intrusões magmáticas sem resultar em episódios eruptivos. A actividade vulcânica na ZFC parece ter terminado em 2007. De modo a acompanhar a futura actividade vulcânica e a predição de erupções vulcânicas recomenda-se a implementação de monitorização adicional na ZFC, tais como o reforço dos levantamentos geodésicos e micro-gravimétricos.

Observações


Anexos