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Instituto de Investigação
em Vulcanologia e Avaliação de Riscos

Teses ► Mestrado

 

Referência Bibliográfica


VALADÃO, P. (2002) – Contribuição para o estudo de movimentos de vertente nos Açores. Dissertação​ de Mestrado em Vulcanologia e Avaliação de Riscos Geológicos, Departamento de Geociências, Universidade dos Açores, 119p.​​

Resumo


Ao longo dos mais de quinhentos anos de História do arquipélago dos Açores vários movimentos de vertente, com origens e magnitudes diversas, têm assolado a maioria das nove ilhas. Neste contexto destacam-se na ilha de S. Miguel, pela sua magnitude e impacte, o evento ocorrido em 1522, despoletado por um sismo e que soterrou Vila Franca do Campo, o episódio de 1630, associado a uma erupção no Vulcão das Furnas e que envolveu a deposição de uma enorme massa de materiais na praia da freguesia da Ribeira Quente, e o recente caso de 1997, em resultado de episódios de precipitação intensa no concelho da Povoação.

A grande diversidade de movimentos de vertente, consequência dos diversos agentes desencadeadores de eventos, conduziu à profusão de termos técnicos na bibliografia da especialidade. Por outro lado, uma vez que cada evento comporta, normalmente, várias características relacionadas com o plano de rotura, o modo de transporte da massa mobilizada ou o tipo de depósito, cuja discriminação nem sempre é possível, existe um vasto leque de opiniões no que concerne à sua identificação e sistematização, proliferando os sistemas de classificação. Com o objectivo de minimizar as ambiguidades decorrentes de tais observações no desenvolvimento do presente trabalho, procedeu-se a uma revisão da nomenclatura utilizada tendo em atenção o respectivo significado. Desde modo, discutiram-se os conceitos de “movimento de massa”, “movimento de terreno”, “movimento de vertente”, creep, lahar, “escoada de lama”, debris flow ou mudflow.

Em virtude das suas especificidades geográficas, geomorfológicas e geológicas procurou-se adaptar uma classificação de movimentos de vertente à região dos Açores, fazendo uso, para tal, de um parâmetro de classificação primário, o tipo de movimento, e de um secundário, o tipo de material envolvido. Não se excluíu a possibilidade de utilização de outros termos e expressões acessórios que não fazendo parte do sistema de classificação principal podem ajudar numa melhor definição do evento.

A recolha e compilação de todos os documentos históricos, jornais, artigos de opinião e trabalhos científicos relativos a eventos ocorridos nos Açores resultou na concepção e desenvolvimento da Base de Dados de Movimentos de Vertente Históricos nos Açores, ferramenta essencial para estudos relacionados com a determinação de períodos de retorno, a identificação das ilhas e áreas vulneráveis e a caracterização das ocorrências em termos de frequência e magnitude. Posteriormente desenvolveu-se uma outra base de dados de movimentos de vertente passível de integrar parâmetros qualitativos e quantitativos de futuras ocorrências.

Com base na análise de fotografia aérea e levantamentos de campo procedeu-se ao estudo da distribuição espacial de movimentos de vertente na ilha de S. Miguel, tendo sido identificadas áreas de maior perigo, condicionado quer pela morfologia, quer pela geologia da ilha. Os eventos identificados foram introduzidos num Sistema de Informação Geográfica por forma a permitir o seu tratamento estatístico e a análise de todas as propriedades que os caracterizam.

A grande maioria dos eventos ocorridos na ilha de S. Miguel são resultado directo de episódios de precipitação intensa, associados a fortes rajadas de vento e aos condicionalismos geológicos, topográficos e biológicos da área. Sendo, normalmente, eventos de menor magnitude do que os originados em consequência de sismos violentos ou de erupções vulcânicas, o seu grande número e vasta dispersão geográfica concorrem para que sejam responsáveis todos os anos por elevados prejuízos na região.

Partindo das ocorrências registadas em 1997 e 2002, analisaram-se os registos de precipitação para o concelho da Povoação e que permitiram inferir um valor preliminar de chuva, em 24 horas, a partir do qual a probabilidade de ocorrência de movimentos de vertente é muito elevada. À semelhança de outras regiões do mundo é de admitir a influência da precipitação ocorrida nos dias, ou mesmo semanas, anteriores aos eventos principais, não sendo ainda possível discriminar qual o espaço temporal que deve ser tido em conta, nem os níveis de precipitação necessários para a predisposição das litologias à ocorrência de movimentos de vertente.

Observações


Anexos