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em Vulcanologia e Avaliação de Riscos
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Referência Bibliográfica


FERREIRA, T. (2000) - Caracterização da actividade vulcânica recente da ilha de S.Miguel (Açores): vulcanismo basáltico subaéreo e zonas de desgaseificação. Avaliação de riscos. Tese de doutoramento no ramo de Geologia, especialidade de Vulcanologia. Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, 248p.

Resumo


​Nos últimos anos, os trabalhos de índole vulcanológica realizados nos três vulcões centrais activos da ilha de S. Miguel permitiram traçar as suas histórias eruptivas e, consequentemente, definir os perigos vulcânicos a eles associados. Dando seguimento ao mesmo tipo de abordagem, procedeu-se ao estudo da actividade vulcânica basáltica subaérea recente registada nesta ilha a qual se tem centrado fundamentalmente no Sistema Vulcânico da Região dos Picos, situado entre o vulcão das Sete Cidades e o Vulcão do Fogo.

 

O Sistema Vulcânico da Região dos Picos é dominado pela presença de diversos alinhamentos de cones de escórias, cuja análise morfométrica colocou em evidência diferentes estádios de degradação em função da sua jovialidade e da intensidade da acção dos agentes erosivos e/ou de episódios tectónicos. As escoadas lávicas aa e pahoehoe produzidas são responsáveis pelo desenvolvimento de extensas superfícies que se estendem, para norte e para sul, com declives relativamente suaves. Outras formas vulcânicas tais como estruturas hidrovulcânicas, cones de pedra pomes e domos, embora de expressão reduzida, foram igualmente reconhecidas na área em questão.

 

Do ponto de vista tectónico este sistema vulcânico é marcado por um sistema de fracturas de direcção geral NW-SE, claramente expresso pela distribuição espacial dos centros emissores e pela a orientação das fissuras eruptivas, correspondendo no seu sector ocidental ao prolongamento para SE da zona de fractura que atravessa o Vulcão das Sete Cidades. No extremo leste, o alinhamento dos cones de escórias denota uma tendência E-W, possivelmente condicionada pela existência de um acidente profundo de carácter oceânico com tal direcção cuja intersecção com o sistema regional NW-SE, à semelhança do sugerido noutras zonas do arquipélago, poderá ter determinado a localização, génese e evolução vulcão do Fogo.

 

A integração dos elementos recolhidos com os dados existentes permitiu estabelecer diversas correlações estratigráficas, relativas e absolutas, entre os produtos do Sistema Vulcânico da Região dos Picos e os depósitos piroclásticos mais expressivos dos eventos centrados nos vulcões poligenéticos vizinhos. Tal atitude conduziu à divisão da unidade geológica do Sistema Vulcânico da Região dos Picos em duas subunidades, com base na sua posição relativamente ao depósito do Fogo-A, datado de há cerca de 5000 anos: a subunidade de Ponta Delgada, constituída por escoadas lávicas e piroclastos basálticos (s.l.) de idade superior a 5000 e a subunidade do Pinhal da Paz, que engloba todos os centros e produtos vulcânicos gerados nos últimos 5000 anos. Neste período de tempo, a ilha de S. Miguel foi palco de cerca de 69 erupções vulcânicas subaéreas, 5 das quais ocorreram após o seu povoamento tendo 2 delas tido lugar no Sistema Vulcânico da Região dos Picos. A primeira ocorreu em 1563 e sucedeu a um evento traquítico centrado na caldeira do vulcão do Fogo. A segunda ocorreu em 1652 e foi considerada até à data como uma erupção de natureza basáltica, durante a qual foram produzidas extensas escoadas lávicas. A partir da intersecção de elementos documentais, vulcanológicos e geomorfológicos, foi possível efectuar a localização deste evento e traçar a respectiva história eruptiva, verificando-se que, de facto, esta erupção se desenvolveu-se a partir de três focos alinhados segundo uma direcção NW-SE e envolveu um magma relativamente evoluído.

 

A actividade vulcânica registada no Sistema Vulcânico da Região dos Picos é predominantemente marcada por episódios eruptivos caracterizados por fases havaianas e estrombolianas pelo que a análise de riscos incidiu sobre o desenvolvimento de escoadas lávicas, a projecção de piroclastos e a emissão de gases vulcânicos. Neste domínio atribuíu-se um especial enfâse à análise da diversidade e complexidade de aspectos manifestados pelas escoadas lávicas, subjacentes às limitações apresentadas pelos modelos que procuram prever e descrever o seu comportamento. A criação de cenários eruptivos, projectados num Sistema de Informação Geográfica, permite avaliar qual o impacto que estas erupções poderão ter  sobre os terrenos produtivos e infraestruturas.

 

Sendo os gases vulcânicos um factor de perigo não só durante os episódios eruptivos, mas também em periodos de repouso, ilustram-se algumas situações relacionadas com a significativa desgaseificação difusa que se verifica nalguns locais da ilha de S. Miguel que conduziram à evacuação de algumas habitações e que constitui factor de risco para muitas outras.

Observações


Anexos