​O conhecimento da actividade eruptiva que afectou a ilha de S. Miguel desde o seu povoamento sofreu nos últimos anos um incremento considerável fruto da combinação efectuada entre os trabalhos de índole vulcanoestratigráfica e a análise das descrições contidas nos documentos históricos. Deste modo, foi possível situar a primeira erupção histórica dos Açores no Vulcão das Furnas, num período compreendido entre 1439-1443, concluir sobre a inexistência de eventos históricos no Vulcão das Sete Cidades e precisar a localização da erupção de 1563 no Vulcão do Fogo.

No caso vertente discute-se a erupção vulcânica de 1652, localizada no Sistema Vulcânico da Região dos Picos, aproximadamente a norte da vila da Lagoa. Tendo principiado ao anoitecer do dia 19 de Outubro, o evento foi precedido por cerca de uma semana de intensa actividade sísmica, marcada por períodos de diferente intensidade, que causou grande destruição naquela vila. A integração de elementos documentais, vulcanológicos e geomorfológicos permitiu consluir que, ao contrário do admitido até à data, a erupção em causa não está relacionada com a edificação de um cone de escórias e o desenvolvimento de escoadas lávicas de natureza basáltica. No presente trabalho traça-se a história eruptiva do fenómeno, defendendo-se que o mesmo se desenvolveu a partir de três focos alinhados segundo uma direcção NW-SE e envolveu um magma relativamente evoluído, de natureza traquítica, associado à edificação de domos lávicos e à emissão de cinzas.