No período entre Maio e Dezembro de 2005 foram registados aproximadamente 47000 sismos na região sismogénica do Fogo-Congro (S. Miguel, Açores), dos quais cerca de 180 foram sentidos pelas populações das freguesias junto à área epicentral. Os sismos mais fortes ocorreram nos dias 20 e 21 de Setembro e atingiram magnitudes (Ml) de 3.9 e 4.3, respectivamente, tendo desencadeado próximo da zona epicentral mais de 250 movimentos de vertente, maioritariamente do tipo escoada de detritos e deslizamentos translacionais superficiais que rapidamente evoluíram para escoadas detríticas. Devido a estes movimentos de vertente algumas estradas rurais ficaram temporariamente bloqueadas e algumas represas foram formadas.
A análise da susceptibilidade geomorfológica foi efectuada à escala regional, com base na assunção de que movimentos de vertente futuros podem ser previstos através de relações estatísticas/probabilísticas entre movimentos de vertente ocorridos no passado e as variáveis espaciais consideradas como factores predisponentes à sua ocorrência. Foram usadas técnicas de análise espacial de dados com o intuito de avaliar a probabilidade da ocorrência futura de movimentos de vertente, adoptando métodos de análise bivariados (weighs of evidence, WofE) e multivariados (regressão logística). As variáveis consideradas incluem: distribuição espacial de movimentos de vertente, inclinação, exposição e perfil transversal dos taludes, uso do solo, litologia, estruturas tectónicas e distância ao epicentro.
A incorporação dos dados das variáveis foi feita num SIG, integrando todos os temas cartográficos considerados, permitindo a definição de scores para cada condição única e a computação dos valores de favorabilidade (indicadores da susceptibilidade) para cada pixel da área do estudo. Os resultados destas metodologias para a definição da susceptibilidade geomorfológica foram validados através de uma técnica de correlação cruzada. A série de dados original de movimentos de vertente foi dividida em dois grupos de forma aleatória. O primeiro subconjunto (grupo de computação) foi usado para obter o mapa da predição, e o segundo subconjunto (grupo de validação) foi comparado com os resultados da predição para a validação através da construção de curvas de predição.
Os resultados decorrentes da avaliação da susceptibilidade baseados nestes modelos estatísticos/probabilísticos foram comparados, com o fim de definir qual a melhor metodologia a aplicar para a definição de classes de susceptibilidade geomorfológica para um evento similar aos ocorridos em 2005. Este tipo de abordagem deverá ser usada para a mitigação do perigo de movimentos de vertente, com as devidas ressalvas, no que respeita a um melhoramento do ordenamento do território e do planeamento da emergência.