Na última década, a ocorrência de episódios de precipitação intensa desencadeou inúmeros deslizamentos superficiais, escoadas detríticas e movimentos complexos no concelho da Povoação, tendo originado avultados danos materiais em bens e habitações, cortes nas vias de comunicação e 3 vítimas mortais (registadas num evento ocorrido a 6 de Março de 2005).
Com o intuito de estudar os factores que desencadearam fenómenos de instabilidade nas vertentes em datas conhecidas, aplicou-se um modelo hidrológico transiente acoplado à análise de estabilidade de vertentes, para avaliar as condições vigentes aquando da ruptura. O modelo hidrológico transiente permite gerar cargas hidráulicas e, associado a um modelo geotécnico (e.g. modelo de talude infinito), possibilita avaliar a variação do factor de segurança dos taludes de uma forma dinâmica, em função do tempo (no caso vertente com resolução de 30 e 60 min.) e da profundidade, antes, durante e após a ocorrência de um período de precipitação particular.
A abordagem determinista utilizada permitiu: (i) deduzir uma explicação física dos processos de instabilidade, relacionada com a precipitação na área de estudo; (ii) reconstituir os mecanismos condicionantes e desencadeantes do processo de instabilidade; e (iii) simular a provável hora dos movimentos, que correspondeu sensivelmente ao momento exacto das rupturas ocorridas no terreno.
O modelo apresentado, pelo seu dinamismo e exactidão, revelou ser uma excelente ferramenta de previsão de movimentos de vertente desencadeados por precipitação, podendo ser utilizado como base para a implementação de sistemas de alarme em locais específicos. Neste contexto, poderá futuramente ser integrado numa plataforma comum com a Protecção Civil, articulado com modelos empíricos que se encontram em desenvolvimento.