Pelo final da manhã de domingo, no dia 1 de Maio de 1808, e após alguns dias de intensa actividade sísmica, tinha início na ilha de S. Jorge uma erupção vulcânica fissural, de natureza basáltica, que causou mortes e grande destruição, em particular na freguesia da Urzelina. A reconstituição dos vários episódios que acompanharam esta erupção é possível graças a descrições feitas na época, sendo a mais significativa a relação escrita pelo padre João Ignácio da Silveira, cura da freguesia de Santo Amaro, publicada anos mais tarde pelo Dr. João Teixeira Soares, no Jorgense, n.º 6, de 1 de Maio de 1871.
Segundo os relatos históricos, uma “grande nuvem de fogo” ergueu-se sobre a freguesia da Urzelina, originando de seguida uma abundante queda de cinzas. A actividade vulcânica desenvolveu-se até ao dia 4 de Maio a partir dos focos eruptivos situados a norte da Urzelina, altura em que migrou para leste formando dois novos focos distanciados cerca de 1.5 km dos primeiros, na zona de Entre Ribeiras. A freguesia de Santo Amaro foi afectada no dia 11 de Maio com a abertura de duas crateras na zona das Areias a partir de onde foi emitida uma escoada lávica que quase alcançou o povoado e obrigou à evacuação da população.
Quinze dias após o início da erupção, a actividade explosiva foi retomada nos centros eruptivos iniciais, a norte da Urzelina. Este novo episódio foi acompanhado pela produção de importantes escoadas lávicas que destruíram grande parte da freguesia e pela formação de nuvens de gases e cinzas denominadas por “nuvens ardentes” que provocaram a morte a mais de trinta pessoas. Após o término da erupção continuaram-se a observar emissões gasosas, não só nas crateras mas também em fendas no solo e na zona das escoadas lávicas produzidas. Em 1810 morreram três homens asfixiados ao tentarem limpar um poço de preia-mar na freguesia da Urzelina.
Como testemunho desta erupção vulcânica salienta-se o conjunto de 7 crateras alinhadas, no local conhecido como Lagoinhas, sobranceiro à Urzelina, e a torre da Igreja de S. Mateus que resistiu incólume à destruição causada por uma escoada lávica e que representa um dos ex-líbris para quem visita esta ilha.
Curiosamente, as duas erupções vulcânicas históricas registadas na ilha de S. Jorge tiveram ambas início no dia 1 de Maio, passando 428 anos da primeira que ocorreu em 1580 e 200 anos sobre a segunda, que se assinala. A actividade vulcânica de 1808 representa a última erupção totalmente subaérea observada nos Açores, já que os eventos posteriores foram submarinos, exceptuando-se a erupção dos Capelinhos (1957-58) que começou com carácter submarino passando posteriormente a subaéreo. A erupção mais recente registada no arquipélago dos Açores decorreu no período de 1998 a 2001 na Crista Submarina da Serreta, a oés-noroeste da ilha Terceira.